SERRAÇÃO DA VELHA
Não é do nosso conhecimento que na Sarzedas ou arredores nos últimos cinquenta anos se tenha celebrado tal tradição. Ouvimos, no entanto, contar às pessoas mais velhas que “antigamente” os rapazes se organizavam, na noite de Terça para Quarta feira antes do terceiro domingo da Quaresma e iam “serrar as velhas”.
Os bailaricos eram “proibidos” durante a Quaresma, com excepção de “quarta feira da velha”.
Não só em Portugal, mas em toda a Europa ocidental, esta festa de origem pagã, parece ter sido inicialmente comemorativa do fim do Inverno e início da Primavera. Marcava um interregno lúdico no período do calendário religioso quaresmal.
É tradição, hoje reavivada em muitas aldeias portuguesas. Organizada por populares, por associações culturais e recreativas, por escolas e seus alunos. Varia quanto ao dia e quanto às actividades lúdicas desenvolvidas.
Espantalhos representando pessoas. Estes foram colocados na horta, na Sarzedas, para afugentar os pássaros e outras aves.
Podemos dizer que se trata de uma revista de tipo burlesco, com uma forte componente de critica social tendo a particularidade de ser interpretada apenas por homens. Consta de um desfile onde uma algazarra ao som de tambores, latas velhas e cornetas e tudo o que pode fazer barulho são palavra de ordem e no cortejo são integrados um ou dois espantalhos, representando uma velha ou um casal de velhos. Em algumas localidades, apenas um cortiço ou uma tábua são serrados simbolizando “a velha”. Um hipotético testamento é lido no largo principal da aldeia onde “a velha” é serrada, sendo as partes do seu corpo “oferecidos” especificamente a Fulano ou Fulana, Sicrano ou Beltrano, acompanhadas da justificação pública de forma satírica.
Há ainda terras onde os possíveis alvos das críticas recebem em suas casas os foliões e oferecem-lhes comida e bebida “obrigando-os” assim ao silêncio. Pode acontecer também o inverso, as pessoas criticadas, atiram água ou outros produtos menos apropriados para cima dos foliões.
Quando o velho a serrar é parte colaborante na cegada, pode ele mesmo dizer de sua vontade:
Agora que vou morrer
E que me vão queimar
Não posso deixar de vos ler
O que eu vos vou deixar
Estou em juízo perfeito
E no uso das faculdades
E sem coacção nenhuma
Digo as minhas vontades