Hoje (ontem, já foi ontem) uma amiga, antiga colega de colégio, Liliete Graça, publicou no FB uma imagem com um conjunto de broas dentro dum forno.
E pergunta ela: “Que vos lembra?”
A brincar eu respondi: “A manteiga, pão quentinho, manteiga fresquinha.”
Na verdade o que me ocorreu de imediato quando vi a imagem foi a recordação da minha avó Conceição e da minha mãe, quando coziam o pão. Que eu nunca comi com manteiga nessa altura. O que às vezes me calhava, na Páscoa, era uma broita pequena com açúcar e erva doce.
Esta imagem deu origem a um conjunto de comentários, que todos eles me fazem lembrar a Sarzedas do Vasco há muito anos atrás.
A broa que se cozia e guardava na arco do milho.
A broa, que assim, durava quinze e não endurecia.
A broa que se acabava e por vezes não dava jeito cozê-la de imediato, pedia-se uma emprestada à vizinha. Talvez o moleiro não tivesse passado, é que era preciso mandar milho pelo moleiro que o levava ao moinho, no caso sempre na Ribeira de Pera, retirava a maquia, e só passado um dia ou dois voltava com a farinha. A maquia era uma parte que o moleiro retirava, para se pagar do trabalho que tinha.
A arca do milho que guardava ovos também.
A arca que servia de mealheiro.
E as peras duras que se punham na arca do milho e ficavam macias em poucos dias.
E como as conversas são como as cerejas falou-se dos chouriços que se faziam.
Das escamisadas. Ah! Que saudades de facto! (escamisadas ou descamisadas era o ato de retirar a capa das espigas, várias pessoas sentavam-se à volta dum monte de espigas de milho e retiravam-lhe a capa. Quando aparecia uma espiga de milho vermelho, chamado milho rei, quem o descamisava teria de dar um abraço a todos os outros presentes).
O papo-seco que se comia às vezes. Por falar em pão de trigo, lembro-me que na Sarzedas só às vezes vinha o padeiro. Quem se lembra do Zé Padeiro, que Deus o tenha? Vivia no Carregal Cimeiro e quando começou a vir dar a volta, trazia um cabaz de pão às costas da padaria do Troviscal até à Sarzedas! Hoje algum padeiro sabe o que é isso?
E já agora a minha história do papo-seco.
No início dos anos sessenta, a Cáritas distribuía aos alunos da catequese (ou da Escola?) leite em pó, farinha de milho, farinha de trigo e às vezes queijo. As crianças levavam para casa… … naturalmente toda família comeria. Como já havia cabecinhas pensadoras nessa época, resolveram entregar a farinha ao padeiro (porque se os pais ou irmãos comessem podia-lhes fazer mal) este passou a levar papo-secos todos os dias à escola, a todas as escolas. Um papo-seco por cada aluno. Claro assim já não era distribuído para levar para casa. Não terá chegado a ser um ano lectivo completo. Foi um “bodo às crianças” que se acabou depressa.
Um papo-seco por dia!
Hoje se comer um pastel de nata, um brigadeiro ou molotov não me sabe tão bem com sabia aquele papo-seco.
https://www.facebook.com/lila.graca.1/posts/990885991057279?comment_id=990936904385521&reply_comment_id=991156394363572
Obrigado pela foto já que mandavas partilhar eu aproveitei deste modo.