A FEIRA DE SANTA CATARINA
Tivemos hoje o prazer de percorrer as ruas de Vila Facaia em dia de feira de Santa Catarina. (Santa Catarina de Alexandria).
Há muitos anos que não o faziamos. Parece haver muitos mais vendedores e muito menos compradores. O melhor que vimos foram os amigos e conhecidos.
Todos os anos no dia 25 de Novembro, se realiza esta feira. Vila Facaia, freguesia do concelho de Pedrógão Grande, mas limítrofe a sul de Castanheira de Pêra, sempre teve grande influência nas gentes do Sul deste Concelho. A situação geográfica de proximidade das aldeias, a boa acessibilidade, facilitaram essas relações e surgiram os casamentos, as trocas comerciais e de mão de obra.
À feira anual de Santa Catarina iam gentes de todas as redondezas. Era a oportunidade de comprar o que fazia falta: vestuário, calçado, utensílos vários, etc. Ferramentas de ferro forjado, sem intermediários. Os próprios ferreiros (muitos deles da Sertã) vinham vender as peças por eles fabricadas: enxadas, sachos, podoas, bisagudas, foices, machados, ancinhos, forquilhas, etc.
Gado! Esta feira vendia gado, especialmente gado suíno. Era uma espécie de "imagem de marca" da feira. Ia-se à feira vender um porco gordo e comprar o “leitaneco” que seria engordado até daí a um ano, quando estaria pronto para a matança. Havia quem comprava mais que um. Se conseguisse engordá-los todos, eventualmente matava um para seu consumo e vendia os outros. Temos uma longínqua lembrança desses negócios, do regatear dos preços entre as partes, da justificação de qualidade por parte dos vendedores e das dúvidas dos compradores. O mais "interessante" era levar o leitão para casa, a pé, até à Sarzedas do Vasco, Sarzedas de S. Pedro, Balsa e mesmo até à Moita. Pela serra do Vale da Borra acima, o leitão atado com uma corda pela perna traseira , não fosse ao bicho dar vontade de fugir, uma pessoa na frente dele com um punhado de milho dentro duma taleiga ia deitando alguns bagos para o chão. Reco! Reco! Toma! Vá! Toma lá! Anda! Reco! Reco! Com esta lenga lenga, lá se ia motivando o entusiasmo do animal para que andasse mais depressa. Caso não resultasse e ele começasse a demonstrar cansaço e não andasse, era levado ao colo, às costa ou dentro dum saco. A viagem inversa, do porco gordo para vender na feira também acontecia. Imaginem um porco gordo, criado em cativeiro, a fazer uns kilómetros a pé. A vida era difícil! Para as pessoas e para o porco. Se o animal asneasse e não quisesse andar? Não podia ir ao colo como o leitão. Tinham de ir pedir a alguém que tivesse um burro com carroça.
Nesta feira, há muitos anos foram proibidas as vendas de gado, dizem que por causa de evitar a proliferação de “moléstias”.
(De qualquer forma foi mais uma achega (???) ao desincentivo da produção/criação doméstica. Não compreendemos como numas feiras é proibido noutras é permitido. Actualmente é permitido a venda de gado de vários espécies, por exemplo feira de Santa Catarina em Celorico de Basto, feira dos vinte e nove (todos os dias vinte e nove) em Monte Redondo, Leiria.)
Era "obrigatório" comer sardinha assada com broa e beber água-pé, na feira de Santa Catarina! Ainda agora se diz quando a sardinha é boa, grande e gorda: “parece sardinha da Santa Catarina”. É de facto a altura do ano em que a sardinha é melhor. A pesca daqui em diante entrará no defeso e toda a sardinha virá salgada.
Actualmente vem congelada!
Vila Facaia é oficialmente, Vila Facaia. Popularmente há quem lhe chama Santa Catarina. No entanto, os antigos conheciam Santa Catarina da igreja para cima até ao antigo cemitério, que actualmente é jardim e Vila Facaia da igreja para baixo, até à entrada de Pé da Lomba.
SANTA CATARINA DE ALEXANDRIA
Diz-se que nasceu em Alexandria no seio de uma família nobre e versada nas ciências, provavelmente no século IV.
Ela era, a mais bonita e a mais sábia das raparigas de todo o Império. Anunciou que desejava casar-se, contanto que fosse com um príncipe tão sábio e tão belo como ela.
O eremita Ananias disse-lhe um dia "Será a Virgem Maria que te procurará o noivo sonhado”. A Virgem Maria aparece de facto a Catarina na noite seguinte, trazendo o Menino Jesus pela mão. Mas o orgulho de Catarina terá desagradado a Jesus, pelo que Ananias teve de educá-la na fé e baptizá-la. Tornou-se então humilde e sendo do agrado de Jesus deu-se o “casamento místico de Santa Catarina com Jesus”
O Imperador Maxêncio tentou, seduzi-la pedindo-a em casamento; ela recusou, respondendo que já estava casada com Cristo, o que lhe valeu a perseguição.
Passando o Imperador Maxêncio por Alexandria, ela foi repreendê-lo de perseguir os cristãos, provando-lhe ao mesmo tempo a falsidade da religião pagã. Incapaz de responder, Maxêncio reuniu, para a confundir, os 50 melhores filósofos da província. Ela confundiu-os a todos até ao último, e conseguiu convertê-los.
O Imperador mandou-os queimar vivos, assim como à sua mulher Augusta, ao ajudante de campo Porfírio e a duzentos oficiais que, depois de ouvirem Catarina, se tinham proclamado cristãos.
Condenada a morrer na roda dentada, Catarina destruiu o instrumento de tortura apenas com um toque da sua mão, o que levou o imperador a mandar que lhe cortassem a cabeça.
A igreja matriz de Vila Facaia, tem no seu teto a vida da Santa representada em várias pinturas.
É a protectora das jovens solteiras e das estudantes. Sendo a roda dentada um ícone emblemático da Santa, também os mecânicos se puseram sob o seu patronato. Como Santa Catarina triunfou junto dos sábios de Maximino pela sua eloquência, também os teólogos, filósofos e oradores intercedem pela sua boa influência para os seus estudos, escritos ou discursos.
FOTOS: - Imagem de Santa Catarina - Igreja Matriz de Vila Facaia- Igreja de Santa Catarina
- Feira da Santa Catarina e Capela de S. João - Feira de Santa Catarina - Jardim