Aldeia do concelho de Castanheira de Pêra, distrito de Leiria

08
Out 10

EH! TRALHÕES LOUCOS!

É tempo de armar aos tralhões. Lembrei-me disso há dias e há muitos anos que não pensava no caso.

Os tralhões ou taralhões  são umas pequenas aves de arribação da Ordem dos Pássaros e da família dos Muscicápidas, também conhecidos por papa-moscas, fura-figos, moscanho, tarrascas, etc. Muito semelhantes ao Pisco mas sem papo amarelo. O papo e a parte inferior são de cor clara, próxima do branco.

 

          Tralhão                                      Pisco

 

     

Dizia-se que os tralhões vinham de África no final do Verão e que se cruzavam com as andorinhas que iam para África e as quais eles apupavam: Eh, andorinhas putas, foram poucas e vieram muitas! Ao que elas respondiam : Eh, tralhões loucos, vão muitos e virão poucos! Devendo-se isto ao facto de os tralhões serem caçados e as andorinhas não. As andorinhas dizia-se serem aves de Deus, pois quando a Sagrada Família fugiu para o Egipto as andorinhas seguiam atrás e rapavam  as pegadas do burro e do S. José para as dissimular, a fim de que ninguém conseguisse segui-los. De facto as andorinhas além de “simpáticas” são mais domésticas, mais urbanas e são um pássaro pequeno que não tem que comer. O tralhão é maiorzinho e normalmente gordo.

As aves de arribação ou migratórias  são  as que se deslocam e passam a Primavera e Verão numa região e o Outono e Inverno noutra. Parece, de facto, que as andorinhas vêm de África em Fevereiro ou Março, para a Europa onde nidificam e regressam para Sul em Agosto, Setembro. Já os tralhões deverão migrar para a Europa do Norte no fim do Inverno, onde nidificam também, e regressam de novo para Sul no fim do Verão principio, do Outono.

Todas as aves de arribação se deslocam na mesma época, no mesmo sentido.

A Poupa (é um Pássaro), o Cuco (é um Trepador), o Rouxinol (é um Pássaro), a Rola (é uma Columbina) entre outros só estão por cá na Primavera e no Verão. A Galinhola (é uma Pernalta) e o Tordo (é um Pássaro) apenas no Outono e no Inverno. Já o Melro (é um Pássaro), a Coruja (é uma Rapina), a Carriça (é um Pássaro), o Pisco (é um Pássaro) estão todo ano, são aves sedentárias.

Os tralhões caçavam-se com armadilhas, que na Sarzedas eram conhecidas por costelos mas que têm outras designações, conforme as regiões: costelas, costilos, costilhas, etc..

Para apanhar tralhões com costelo é preciso arranjar o isco. Como isco utilizavam-se minhocas que se criavam dentro dos canoilos do milho, especialmente o milho da revolta, normalmente milho de sequeiro. Claro que para tirar as minhocas do canoilo utilizávamos um canivete e  estragávamos os milheirais todos o que muitas vezes nos trazia problemas complicados. Guardávamos as “bichas” dentro duma caixa de graxa limpa e colocávamos-lhe dentro uns pequenos pedaços de canoilo verde, para que entretanto  se fossem alimentando.

O apetrecho que faz parte do costelo e onde se prende  a minhoca deveria chamar-se minhoqueiro, mas curiosamente chama-se agudieiro derivado de agude ou agúdia que é simplesmente uma formiga com asas que por vezes aparece no principio do Outono e que também é utilizada como isco. Na Sarzedas não é muito comum aparecerem agúdias.

   

O agudieiro é composto por um pau de videira, ao qual se tirou a medula e se fez um corte em bisel. No sitio onde estava a medula passa-se um fio  e ata-se ao centro da mola do costelo. Quando o fio está largo coloca-se o rabo da minhoca ou as patas traseiras da agudiana na argola superior do fio. Quando  o pingarelho do costelo é armado no corte em bisel fica a fazer força para cima e segura o isco.

 

Como se faz um costelo:

 

  
  
  

A maneira mais rápida e económica de arranjar arame de aço para fazer as molas é nos arcos dos pneus. Dá muito trabalho a cortar a borracha até chegar ao conjunto de arames finos e duros. Depois há que enrolá-los num pau ou arame grosso de modo a fazer a mola. De seguida com outro arame também de alguma dureza, vai-se dobrando de acordo com a forma do costelo. Não podemos esquecer de enfiar a mola no momento próprio na primeira arma. Corta-se depois a dobra-se o arame para a segunda arma que se engata no arame onde se enfiou a mola. As pontas da mola são então enroladas nesta arma, uma de cada vez, depois de se rodarem até terem força.

 

 

Milho da revolta -  Milho semeado na deslavra ou seja na segunda lavra, isto é depois de se apanhar a primeira colheita, aproveitava-se o chão cavado, semeavam-se uns grãos de milho com intenção sobretudo de dar alimento em verde ou uma palha para os animais.

publicado por Sir do Vasco às 22:53

11 comentários:
FONSECA: Obrigado pela opinião!
Sir do Vasco a 26 de Outubro de 2010 às 14:29

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