EH! TRALHÕES LOUCOS!
É tempo de armar aos tralhões. Lembrei-me disso há dias e há muitos anos que não pensava no caso.
Os tralhões ou taralhões são umas pequenas aves de arribação da Ordem dos Pássaros e da família dos Muscicápidas, também conhecidos por papa-moscas, fura-figos, moscanho, tarrascas, etc. Muito semelhantes ao Pisco mas sem papo amarelo. O papo e a parte inferior são de cor clara, próxima do branco.
Tralhão Pisco
Dizia-se que os tralhões vinham de África no final do Verão e que se cruzavam com as andorinhas que iam para África e as quais eles apupavam: Eh, andorinhas putas, foram poucas e vieram muitas! Ao que elas respondiam : Eh, tralhões loucos, vão muitos e virão poucos! Devendo-se isto ao facto de os tralhões serem caçados e as andorinhas não. As andorinhas dizia-se serem aves de Deus, pois quando a Sagrada Família fugiu para o Egipto as andorinhas seguiam atrás e rapavam as pegadas do burro e do S. José para as dissimular, a fim de que ninguém conseguisse segui-los. De facto as andorinhas além de “simpáticas” são mais domésticas, mais urbanas e são um pássaro pequeno que não tem que comer. O tralhão é maiorzinho e normalmente gordo.
As aves de arribação ou migratórias são as que se deslocam e passam a Primavera e Verão numa região e o Outono e Inverno noutra. Parece, de facto, que as andorinhas vêm de África em Fevereiro ou Março, para a Europa onde nidificam e regressam para Sul em Agosto, Setembro. Já os tralhões deverão migrar para a Europa do Norte no fim do Inverno, onde nidificam também, e regressam de novo para Sul no fim do Verão principio, do Outono.
Todas as aves de arribação se deslocam na mesma época, no mesmo sentido.
A Poupa (é um Pássaro), o Cuco (é um Trepador), o Rouxinol (é um Pássaro), a Rola (é uma Columbina) entre outros só estão por cá na Primavera e no Verão. A Galinhola (é uma Pernalta) e o Tordo (é um Pássaro) apenas no Outono e no Inverno. Já o Melro (é um Pássaro), a Coruja (é uma Rapina), a Carriça (é um Pássaro), o Pisco (é um Pássaro) estão todo ano, são aves sedentárias.
Os tralhões caçavam-se com armadilhas, que na Sarzedas eram conhecidas por costelos mas que têm outras designações, conforme as regiões: costelas, costilos, costilhas, etc..
Para apanhar tralhões com costelo é preciso arranjar o isco. Como isco utilizavam-se minhocas que se criavam dentro dos canoilos do milho, especialmente o milho da revolta, normalmente milho de sequeiro. Claro que para tirar as minhocas do canoilo utilizávamos um canivete e estragávamos os milheirais todos o que muitas vezes nos trazia problemas complicados. Guardávamos as “bichas” dentro duma caixa de graxa limpa e colocávamos-lhe dentro uns pequenos pedaços de canoilo verde, para que entretanto se fossem alimentando.
O apetrecho que faz parte do costelo e onde se prende a minhoca deveria chamar-se minhoqueiro, mas curiosamente chama-se agudieiro derivado de agude ou agúdia que é simplesmente uma formiga com asas que por vezes aparece no principio do Outono e que também é utilizada como isco. Na Sarzedas não é muito comum aparecerem agúdias.
O agudieiro é composto por um pau de videira, ao qual se tirou a medula e se fez um corte em bisel. No sitio onde estava a medula passa-se um fio e ata-se ao centro da mola do costelo. Quando o fio está largo coloca-se o rabo da minhoca ou as patas traseiras da agudiana na argola superior do fio. Quando o pingarelho do costelo é armado no corte em bisel fica a fazer força para cima e segura o isco.
Como se faz um costelo:
A maneira mais rápida e económica de arranjar arame de aço para fazer as molas é nos arcos dos pneus. Dá muito trabalho a cortar a borracha até chegar ao conjunto de arames finos e duros. Depois há que enrolá-los num pau ou arame grosso de modo a fazer a mola. De seguida com outro arame também de alguma dureza, vai-se dobrando de acordo com a forma do costelo. Não podemos esquecer de enfiar a mola no momento próprio na primeira arma. Corta-se depois a dobra-se o arame para a segunda arma que se engata no arame onde se enfiou a mola. As pontas da mola são então enroladas nesta arma, uma de cada vez, depois de se rodarem até terem força.
Milho da revolta - Milho semeado na deslavra ou seja na segunda lavra, isto é depois de se apanhar a primeira colheita, aproveitava-se o chão cavado, semeavam-se uns grãos de milho com intenção sobretudo de dar alimento em verde ou uma palha para os animais.