Aldeia do concelho de Castanheira de Pêra, distrito de Leiria

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Out 17

A SALVAÇÃO

 

Hoje tive um motivo que me trouxe aqui e começar a escrever sobre a salvação. Não pensem que “virei” Testemunha de Jeová, não é isso. Contudo a SALVAÇÃO que vou falar, digamos que originalmente está também relacionada com a salvação da alma.

Umas mais do que outras, as pessoas todas pretendem a salvação. Umas mais a salvação do corpo e outras pensarão também na salvação da alma.

A "SALVAÇÃO"  era a formulação de um desejo entre duas pessoas que se cruzavam no caminho.

Como católico, embora pouco praticante, continuo a ir à missa aos domingos. Como crente eu também procurando “A Salvação”. Hoje quando passava no largo na igreja, passavam também uma senhora e um cavalheiro em plena conversa e dizia ela: “...zangou-se e deixou de me dar a salvação!”. Assim, pensei eu neste post e neste tema. A salvação. Antigamente a salvação era um uso de toda a gente em todas as aldeias e na Sarzedas também. Este hábito perdeu-se e onde ou quando existe, foi muitas vezes deturpado do original. Quanto mais novas são as pessoas menos cumprimentam os outros e se forem desconhecidos pior ainda. Na Sarzedas sempre ouvi um pessoa ao passar por outra dizer “Bom dia” “Boa tarde” “Boa noite” conforme a situação. Poucos invocavam Deus para a salvação. Lembro-me, no entanto, do Ti Oliveira que dizia sempre “Bom Dia nos Dê Deus” ou “Até amanhã se Deus quiser”.  Chegava-se à incoerência de pessoas estarem zangadas e no entanto desejarem  "Bom dia ou Boa Tarde" uns aos outros. Não tanto durante o trabalho diário, mais ao Domingo ou quando se cruzavam com alguém mais "importante" os homens levantavam o chapéu da cabeça. Negar a salvação era o pior que podia acontecer, era o corte total duma pessoa com o seu semelhante.

Os mais velhos lembrar-se-ão das locutoras da TV se despedirem com esta última frase. Era obrigatório antigamente. Atualmente algumas e alguns, poucos, o fazem por convicção naturalmente.

A salvação era assim o desejo que uma pessoa demonstrava perante a outra de que tudo lhe corresse bem.

Agora, ouve-se muitas vezes a ignorância de alguns pretender fazer humor onde de facto não existe. Alguém diz “Boa Tarde”, fequentemente ouve-se em resposta “Vens Tarde? Viesses mais cedo!”. Este é um agradecimento pouco ortodoxo a quem deseja que a tarde seja boa. A salvação é um desejo não uma constatação.

Se recuarmos  no tempo  "avé" significava "salvé". Cristo dizia "a paz esteja convosco".

Atualmente há quem diga "Olá!

Outras formas menos usuais entraram no nosso léxico: do italiano "ciao" aportuguesado "tchau!", do inglês "bye-bye", do brasileiro "oi pessoau" ou  "oi tudo bem".

Embora bastante usada antigamente, "adeus" talvez com significado de "Até Deus" hoje em dia  quase  ninguém usa, não sei se por medo de se voltarem a encontrar apenas juntos de Deus ou por outra razão. Há quem defenda mesmo que "adeus" é antónimo de "oi, olá, hello" e sinónimo de "tchau, good bye, saudações, saída, embora".

Encontrei no blog “Atenta Inquietude” um post muito interessante sobre o tema, com a devida vénia ao autor Zé Morgado, transcrevo.

http://atentainquietude.blogspot.pt/2010/11/dar-salvacao.html

Como o povo costuma dizer estamos sempre a aprender. Fiquei hoje a saber través do JN que o dia 21 de Novembro é o Dia Internacional da Saudação e tem como objectivo a promoção da paz através do cumprimento. O jornal dispõe ainda de alguma informação sobre as formas de cumprimento em diversas paragens.

Do meu ponto de vista, falta um dos muitos enunciados que a língua portuguesa tem e que me encantam, “dar a salvação”, isto é, cumprimentar. Desde miúdo que à minha avó ouvia esta expressão e a recomendação de que sempre que se entra em algum lado ou se passa por alguém, conhecido ou não, se deve dar a salvação. Este comportamento perdeu-se quase completamente, ninguém se cumprimenta ao cruzar-se na rua, excepto se for conhecido, naturalmente, e quando se entra num qualquer local, um café, por exemplo, e se solta um bom dia, a maioria das pessoas não liga e alguns olham-nos como alienígenas. Alias, tal estranheza verifica-se quase sempre que se cumprimenta alguém desconhecido com que nos cruzamos, convido-vos à experiência.

No meu Alentejo, como provavelmente noutras paragens, ainda muita gente dá a salvação na rua e, acho lindíssimo, alguns dos homens mais velhos ainda levam a mão ao chapéu ou à boina. E também se mantém para muitas pessoas o hábito de um cumprimento global ao entrar num espaço público.

Dirão que nada disto parece relevante e, provavelmente, não o será. Mas cumprimentar alguém com que nos cruzamos tem a enorme consequência de que esse alguém é olhado e interpelado, deixou de ser transparente, tornou-se visível, vivo. Num mundo em que as relações interpessoais são cada vez mais em suporte virtual e em que as pessoas estão mais sós, mas com uma “rede social imensa”, não é questão de somenos.

Finalmente, esta ideia de poder receber de alguém, ou poder oferecer a alguém a salvação é, no mínimo, reconfortante. Mais do que nunca.

Obrigado Zé Morgado.

publicado por Sir do Vasco às 23:42

2 comentários:
Infelizmente uma raridade, mesmo entre vizinhos. É uma situação que já não é exclusiva das cidades, mesmo nas vilas e aldeias vai-se perdendo essa forma de cumprimentar. Algumas vezes as pessoas não respondem e olham até com alguma desconfiança...
Manuel Tomaz a 16 de Outubro de 2017 às 22:50

É verdade, pouco se cumprimenta, parece que o fazem por favor e muitos fazem-no de modo atabalhoado.
Sir do Vasco a 30 de Novembro de 2017 às 00:36

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