Aldeia do concelho de Castanheira de Pêra, distrito de Leiria

29
Jul 15

 

"DE-MO EM MASSA, QUE EU MESMO EM MASSA O COMO"

Em modesta opinião, julgamos que em Portugal atualmente só passa fome quem não quer fazer a "ponta dum corno". Não haverá empregos, ditos bons empregos, mas há muito onde realizar algum dinheiro, sem roubar. Até a pedir se ganha (ou adquir muito) dinheiro, que para alguns, dá para viver.

Enquanto der para brincar com a comida a coisa vai boa! Não somos contra isso.

Hoje a SIC mostrou no jornal da tarde, ali para os lados do Cartaxo, alguém que brinca com as flores de curgete, com recheio que vão ao forno e faz-se algo de comer o chorar por mais. Mostrou também uma produção de plantas aromáticas de "grande sucesso". Também não somos contra.

Mas produções de alimentos, digamos que principais, como batata, feijão, couve, etc, aqueles que são efetivamente necessários no dia a dia da alimentação das pessoas, esses poucos se dedicam a produzi-los... afinal ainda importamos alimentos! Será por não produzirmos suficiente ou por vantagens comerciais?

Na Sarzedas do Vasco, como já referimos, as pessoas viviam do que produziam, contudo com famílias numerosas e com poucos terrenos cultiváveis, nem sempre a abundância era suficiente para que não houvesse fome. Não temos  conhecimento de haver cultivo de curgetes nas hortas da aldeia. Havia sim cultivo de abóboras cuja flor é parecida. Nunca ninguém se terá lembrado de comê-las! Muito menos de recheá-la!

Hoje há tempo para brincar com as comidas, os antigos não tinham esse tempo.

Isto faz-nos lembrar uma estória que ouviamos contar lá na terra. Um certo rapaz tinha por obrigação como muitos outros ir "tirar o gado" ou seja apascentar as ovelhas mas como tinha fome e sabia que a mãe ia cozer o pão foi protelando a saída do gado até que a mãe se põs ao alto com ele e o obrigo a ir embora ainda que com grandes protestos, já que a fome não o deixava. A mãe dizia-lhe  "...o pão vai lá ter". Lá foi para os ladas do  Torroal não se afastando muito da aldeia. Passado algum tempo, dado que ninguem lhe levou a merenda e a fome era ainda mais, abandonou o gado e veio ao lugar ver se a mãe já tinha pão cozido.

"Venho à procura do pão!" Terá ele dito à mãe.

Ao que ela respondeu: "O pão ainda está em massa, vai guardar o gado!" 

Disse o rapaz: "Ò  minha mãe, de-mo em massa, que eu mesmo em massa o como"

Não havia tempo para brincar com a comida!

publicado por Sir do Vasco às 14:19

19
Jul 15

Passa pouco das 10 horas da manhã. Um grupo de Sarzedenses, quinze ou dezasseis pessoas de Sarzedas do Vasco inicia uma caminhada de cerca de 2 horas e tal até ao Fontão Fundeiro. É dia de festa da Nossa Senhora da Saúde. A missa é às treze horas e é melhor ir andando para não chegarmos atrasados.  Cada um leva seu lanche, porque depois da procissão lá por volta das tres e tal ou quatro da tarde é melhor aconchegar o estomago. Subimos até ao Alto da Alagoa, atravessamos por estrada de terra até encontrar o ramal de Campelo já na subida, agora até ao alto da Senhora do Pranto temos a estrada municipal que não sendo alcatroada é melhor do que os carreiros no meio do mato. Mais dez minutos e estamos no alto. Descemos depois até Vilas de Pedro e numa pequena pausa já merecida, pois já estamos no caminho há mais de uma hora, molhamos o bico no grande fontenário de água corrente, cristalina e fresca, que fica no largo principal, mesmo ao lado da estrada.

Alguns despacham-se e vão espreitar pelo postido da capela da Nossa Senhora do Pranto que fica cinquenta metros á frente. Logo a seguir a esta capela cortamos à direita por um caminho agricola que atravessa por entre milheirais, geiras de feijões verdes, couves , alfaces, abóboreiras e outras plantações desta época. O ambiente é de frescura, apesar das 11 e tal e do Sol escaldar, cheira a terra regada de fresco e apesar de ser Domingo alguém anda a aguar o alfobre ali mais abaixo.

Já entrámos agora numa zona de pinhal que vamos atravessar. Depois de subir e descer duas ou três colinas a última descida levou-nos à entrada da ponte no inicio da aldeia, sobre uma pequena ribeira cujas margens estão cheias de hortas bem tratadas. Agora é sempre a subir até à capela. No inicio desta subida, junto das primeiras casas da aldeia, uma quelha à direita leva-nos à fonte, eu e mais alguns fizemos mais este desvio e fomos de novo dar de beber ao corpo e voltámos, apressámos o passo para apanhar de novo o grupo que foi andando.

É meio dia e meia, chegámos ao recinto, vamos à capela e vamos esperar pela missa.

A missa começou ligeiramente atrasada, a capela esta cheia de gente, se isto não fosse a casa de Deus, diria que está um calor infernal. Missa de festa demora sempre mais, missa cantada, com três padres. Os andores ocupam parte da capela mor pelo que os homens que assistem à missa estendem-se até à porta exterior da sacristia. Na entrada principal algumas mulheres assistem á missa  na rua e o som que lhes chega vem das campanulas de som, instaladas na torre.

...   ...   ...   ...   ...   ...  

São quase quatro da tarde, a procissão terminou há pouco. O "rato já roe na barriga" vamos procurar um sombra  ali no pinhal ao lado e fazer o pic-nic. Aqui perto está uma "taberna" de festa: Uma carroça  tem três pipos em cima, um tabuleiro com vários copos  e vários jarros de barro vermelho pendurados pela asa num cabide feito com um pau e pregos espetados, umas grades com laranjadas e outras com cervejas. A mula que puxara a carroça está presa a um pinheiro uns metros mais abaixo a recompor-se com uma facha de palha. À volta da carroça várias estacas espetadas no chão suportam umas tábuas em cima, em forma de U. Enquanto as mulheres do grupo estendem as toalhas no chão em cima da caruma e debaixo da melhor sombra escolhida, os homens abeiram-se do "balcão" e pedem um jarro cheio. Alguns preferem só tinto outros compram uma laranjada e fazem uma mistura. Levam o jarro até à "mesa" o qual entregarão de volta depois de vazio. Apesar de estar quente como caldo o conteúdo do jarro vai-se dividindo com um mesmo copo que passa de pessoa em pessoa. É bom e sabe a festa.

Entretento a banda filarmónica já terminou o pequeno concerto que tocou, com os músico em pé, em frente à capela.  O Locutor de serviço  pede a presença de um mordomo através do som atirado para as campanulas na torre. Vão iniciar o leilão das fogaças. Quanto vale? Quem dá mais? Ninguém dá mais? Vou entregar ...   ...   ...   um ...   dois...   três. rum catrapum e pum! Está entregue.

Agora o nosso estomago está composto, são cinco da tarde esta-se aqui bem mas temos que voltar ao caminho... A Sarzedas do Vasco fica a duas horas e tal de distancia e enquanto de manhâ "IAMOS PRÁ FESTA!"   agora "vimos da festa!".

 

Esta notícia que aqui publico só tem de verdade o facto de ter havido missa e procissão. Só nos anos sessenta do século passado isto poderia ter acontecido, em 1966 ou 67 pode ter sido verdade.

Hoje ninguém vai a pé da Sarzedas do Vasco à festa da Senhora da Saúde, Ainda que fosse não atravessaria do Alto da Alagoa para o ramal de campelo, agora alcatroado.  Não há milheirais nem hortas à saída de Vilas de Pedro, Não se conhecem carreiros nem atalho pelo meio do mato. Não há hortas bem tratadas  à entrada do Fontão. Só a  fonte velha ainda lá está à direita ao fundo da quelha.

A escola primária fechou. A missa não é cantada, não é rezada na capela. É missa campal debaixo dos plátanos que já estão grandes e com boa sombra. Como na maioria das romarias populares da nossa região, é uma missa vulgar, não cheira a festa, não é incensada e é presidida apenas por um sacerdote. Este ano por acaso foi o Vigário Episcopal para a Pastoral.

Não há mais tabernas de festa. Não haveria fregueses, ninguem compraria bebidas "chocas" ah! ah!  e a ASAE não permitiria, seria um perigo para a saúde pública (não sei como ainda aqui estou!) Também não há pessoas a comer os farneis debaixo dos pinheiros.

Continua a existir o mini concerto dado pela banda filarmónica, seguindo-se os leilões de fogaças.

A missa campal foi uma boa alteração dado a grande afluencia de peregrinos que continua a existir. A capela não é original, tendo sido construida de novo no mesmo local, foi feita com "vistas curtas" porque ficou de tamanho semelhante à antiga. Num local onde as necessidades são visiveis e o espaço não falta, poderiam ter construido um templo mais bonito e mais espaçoso uma vez que a opção foi deitar abaixo e fazer de novo.

As fogaças são transportadas de mota quatro, compreende-se... mas perde-se o efeito das fogaceiras na procissão.

Os enfeites do arraial deixaram de ser de papel de seda e como em muitas outras festas, passaram a tela de plástico  recortada. Um ponto talvez positivo, talvez evoluido: usaram apenas duas cores azul e branco. Digo "talvez evoluido" porque nota-se aqui uma pretensão de tornar  o aspeto fino, mas fico em dúvida se isso é melhor!!! Festa de arraial é isso mesmo muita cor, muita poluição visual é isso que dá aspeto de arraial popular quando se pretende "snobar" o  arraial torna-o numa festa de finalistas ou num baile de fim de ano.

Sra Saúde 2015 (2)

Sra Saúde 2015 (1)

Sra Saúde 2015

 

publicado por Sir do Vasco às 23:22

08
Jul 15

linita076.jpg

 

 

 

Familiarmente conhecida por Linita, prima Lina, Maria Aline Rosa Simões, faleceu ontem.

Trabalhou nas Finanças em Tomar e Coimbra, enquanto "correu" atrás da licenciatura em Ciencias Geográficas. Tanto quanto conheço terá sido a primeira pessoa (eventualmemete a segunda??) licenciada, que nasceu em Sarzedas do Vasco.

Dedicou depois a sua vida ao ensino, tendo fixado residencia há vários anos em Leiria. Aqui faleceu numa clinica privada, depois de alguns meses de algum sofrimento.

O avô dela era meu tio bisavô, sendo portanto sua mâe prima direita de meus avòs maternos.

Pessoa por quem tinha muita estima. Estou sentido pelo acontecimento.

Paz à sua alma!

publicado por Sir do Vasco às 09:24

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