Aldeia do concelho de Castanheira de Pêra, distrito de Leiria

13
Ago 22

A técnica da boleia

Depois de ter começado a guerra no ultramar, no inicio dos anos sessenta do século XX o Estado Português começou a recrutar todos os rapazes e mobilizá-los para a guerra. Apuravam todos, mesmo os que não fossem capazes de disparar uma espingarda iam para serviços auxiliares, eram os “básicos”, os que não sabiam fazer nada, de “económicas e vassoureiras” como eram apelidados.

Muitos dos militares sentiram-se em baixo e entraram em desanimo  pelo facto de saberem que iam para a guerra e fez aumentar as saudades da família.

As despesas do Estado aumentaram em muito com as Forças Armadas.

Então surgiu o conceito de “fim-de-semana”. Começaram a mandar embora para casa todos os militares à sexta-feira à noite e teriam de regressar ao quartel até domingo à noite ou segunda feira de manhã a tempo de estar na formatura às oito horas. O Estado poupavam muito dinheiro em comida e ele matavam saudades da família.

Colocou-se depois outro problema, muitos dos militares não tinham dinheiro para as viagens, pelo que começaram a pedir boleia, dando inicio a uma onda de solidariedade para com eles.

Os Cabos-especialistas de FA  até compuseram uma letra onde incluiam a referência às boleias:

Ó Cabo especialista,

mecânico, eletricista,

ou técnico de avião.

As corridas e noitadas,

boleias pelas estradas,

são tempos que já lá vão!

Pouco a pouco começaram a andar à boleia todos quantos se queriam deslocar mas não tinham dinheiro. Pedia-se boleia para não gastar o dinheiro da viagem, pedia-se boleia por não haver transporte público ou porque a hora dele era tardia e indo à boleia ganhava-se tempo…

Na região de Coimbra um traje académico era um bom indicio para arranjar boleia.

Eu fui um dos que fiz centenas de  quilómetros  à boleia.

Davam boleia os que gostavam de ajudar e que gostavam de companhia.

Uns conversavam sem parar contavam as histórias deles e gostavam de saber as nossas, outros perguntavam “Para onde vai?” e não abriam mais a boca até ao fim da viagem. Os camionistas, porque gostavam de ter companhia, bons dadores de boleia, quase todos bons conversadores.

Também aconteciam declarações insólitas do tipo: “Nunca dei boleia a ninguém, não costumo dar boleia e não sei porque parei e lhe dei boleia!” ao que eu respondi “ Fico agradecido por isso e só quero boleia até tal sitio, não se preocupe com mais nada” outro disse-me assim: “Eu dou-lhe  boleia mas não tente qualquer coisa contra mim, porque eu enfio a carro contra uma barreia ou por ela abaixo!”

Mas para pedir boleia à beira da estrada, onde estavam muitos rapazes, (raramente aparecia um casal e muito menos uma rapariga só),  havia um certo procedimento. O último a chegar ia para o fim da fila e havia um distanciamento de 40 ou 50 metros uns dos outros. Por ir para o fim da fila não queria dizer que não pudesse apanhar boleia primeiro. Quem dava boleia, dava a quem achava que devia. À medida que os da frente fossem apanhando boleia a fila ia avançando.  Às vezes estava-se tão próximo uns dos outros que quando um carro parava não se sabia bem para quem era.

Um amigo meu já empregado, contou que quando resolveu fazer um curso superior e que tinha de se deslocar a uma cidade para ia às aulas, ás vezes procurava boleia sobretudo para ganhar tempo. Com boa apresentação e pastinha na mão, está certa altura a pedir boleia. Um certo individuo parou mas de tal forma que ficou mais perto do “pedinte”  que estava atrás dele. Este abeirou-se do carro e o meu amigo ficou parado. O senhor do carro negou-lhe a boleia: “Desculpe, eu não lhe dou boleia a si dou ao senhor que está lá atrás” Parece que o rapaz usou de Fair-play . “Pode vir que a boleia é para si”.

Havia sitos onde não era difícil arranjar boleia Por exemplo a rotunda do relógio em Lisboa para vir no sentido norte. Para mim servia vir por Pombal ou por Tomar, por isso arranjei uma cartolina onde tinha escrito Pombal e Tomar e na parte de trás Lisboa, andava sempre no saco pronta para utilizar. Não podia ter um cartaz  a pedir boleia para Sarzedas ou mesmo Figueiró dos Vinhos, nunca mais me safava. A Shell em Pombal (actualmente Repsol) no sentido Lisboa. De  Coimbra para Figueira da Foz, depois de passar o túnel que ainda hoje existe, por baixo da linha, junto à estação Coimbra-B, a sequencia de  carros era continua já em  1971/72 que nós brincávamos com a situação “Só aceito boleia em carro que tenha leitor de cassetes”.

Algumas boleias com história:

Boleia de Cernache do Bonjardim para Castelo Branco e as aventuras de um dia. Um camião carregado de tijolos, o motorista Sr. Adriano, bom conversador  disse-me só vou até …   … Sarzedas  (de Cast. Branco) ou Sobreira Formosa ou Taberna Seca não me lembro...Serve? Claro, depois continuo, disse eu. Lá seguimos pela antiga estrada de curva e contra curva, de vagar e devagarinho.

A certa altura já depois de Proença-a-Nova, ouve-se um barulho e diz o motorista com ar de poucos amigos:  Um furo! Acompanhado duns quantos atributos que não vou dizer aqui. Parou logo que foi possível e toca a mudar o pneu. Podem imaginar o que é trocar um pneu num camião carregado de tijolo. Hoje ninguém troca pneus em camiões...gostava de ver algumas motoristas. Coisas impossíveis! 

Bom, fiz os possíveis por dar a minha ajuda, mudou-se  o pneu seguimos viagem talvez com mais de meia hora de atraso. À frente numa tasca, bebemos um copo e lavamos as mãos. Antes de partirmos ele foi “ver qualquer coisa” lá atrás, com a dona da tasca, coisa rápida não mais de cinco minutos e voltamos à estrada. Já em andamento diz o motorista:

“Olhe, já vou passar em Castelo Branco, a porcaria do furo estragou-me os planos. “

“Certo, para mim tudo bem.” Era cedo, antes de almoço. Se quiser pode ir comigo a Silvares eu tenho que voltar por CB e deixo-o lá ficar, assim sempre vou se companhia. O meu “trabalho” em Castelo Branco também só começava à tardinha. Lá vou eu passear a Silvares...resultado acabei por ajudar a descarregar os tijolos um a um, não era como agora com paletes e monta cargas no caso desmonta cargas e o motorista também vergou a mola, também não era como agora. Agora os motorista estão ao volante nem saem à rua para não se constiparem e dizem: Eu sou motorista, e não ajudante.

Voltámos, fiquei em Castelo Branco. Por causa do furo o homem perdeu o “affaire” que tinha combinado e eu ganhei a boleia até onde queria.

Mais tarde estava eu na EN 1 frente às bombas da Shell em Pombal, um sitio privilegiado  para pedir boleia para Lisboa. Reparei que passou um citroen GS matricula espanhola, com um casal na casa dos trinta anos talvez, mas passou e não deu boleia. Passados cinco minutos vejo vir o mesmo carro em sentido contrario dá a volta junto às bombas e vira no sentido sul, pára junto a mim e diz “Vamos a Estoril  te puedes quedar en Lisboa, puedes entrar” . Aceitei mas fui a pensar no caso,  porque é que eles voltaram? Chegamos em frente ao mosteiro da Batalha e eles pararam o carro. Ainda havia por ali um espaço onde se podia estacionar, fora do alcatrão e podia-se descer a barreira e atravessar até ao convento. Pegaram maquina fotográfica “quiero tomar algunas fotos volveremos pronto” atravessaram a estrada desceram a barreira e deixaram-me dentro do carro. Eu ai desconfiei! De repente passaram-me muitas ideias pela cabeça...pelo sim pelo não, peguei no meu saquinho de lona, que tinha comprado na feira da ladra, onde transportava sempre as coisas mínimas que me faziam falta, coloquei-o ao ombro, sai do carro  e fiquei a uns cinco ou dez metro ao lado, a ver onde paravam as modas. Passados poucos minutos voltaram… disseram: “vamos”. E lá continuamos viagem. Deixaram-me no fim da 2ª circular, junto à Buraca, a cerca de um Km de casa. Despedi-me e agradeci com o meu “obrigadissimo”.

Outra altura, na rotunda do relógio, saída para 2ª circular com sequencia para o autoestrada. Na época havia o autoestrada do Estoril e este para norte, só até Vila Franca de Xira. Era de manhâ, suponho que sexta feira, vinha para casa, para Sarzedas. Parou junto a mim um carro com dois sarzedenses, atualmente já falecidos,  Sr. Afonso dos Reis e o Sr. Manuel Alves.

Apetecia-me dar pulos e gritar, mas claro não podia… Seria aquele  “Yiiiiieeees!” Boleia de Lisboa até casa.

 Em Vila Franca, pagaram a portagem na ponte, naturalmente,  que continuaria a ser paga durantes mais uns anos, seguem pela reta do Cabo  e tomaram a direção norte; era o melhor itinerário na altura porque pela N1 até Pombal  tinha muito transito e por Santarém a estrada estava muito esburacada.

Primeira paragem, Quinta da Alorna, entrada de Almeirim, o porta bagagens do carro    vinha cheio de “palhinhas” vazios. Encheram os garrafões na adega, pagaram e continuamos até a zona da praça de touros.

Vamos almoçar!

 Está certo, eu espero aqui à sombra, disse eu.

Não senhor, tu vens almoçar connosco. Bem...Eu tinha dinheiro para pagar o meu almoço, não teria para pagar três almoços. Se eu vou à boleia eu é que deveria pagar...

Fiquei “encostado”! Sem saber o que fazer.

Disse então: Eu pago o meu almoço!

Só pagamos no fim, disseram.

Agora vamos almoçar.

Lá fomos os três, e no fim não me deixaram pagar nada. Obrigado.

Voltámos ao carro, seguimos viagem até à saida de Almeirim. Paragem numa venda de melão. Os Senhores compraram melão até não haver sítio, por cima dos palhinhas, cheios de vinho no porta bagagens, por baixo dos bancos e acho que se eu não viesse lá ainda teriam trazido mais. 

Chegámos à Sarzedas sãos e salvos.

Boleia onde apanhei um susto. De Tomar para Lisboa. Um casal novo, talvez pouco mais velhos que eu, na casa dos vinte, um fiat 124 e a menina pendurada no pescoço dele que ia a conduzir, não fosse ele abrir a porta e sair! Seguiram pela Azinhaga, Reguengo do Alviela, Vale Figueira e depois tomaram a estrada nacional. Foi para mim a primeira vez que passei por esta estrada.

Depois do Reguengo, havia uma ponte, antiga que ainda lá está mas inutilizável, como muitas outras tinha uma elevação no centro que não deixava ver o outro lado e só havia espaço para um carro passar. Um pouco antes de entrar na dita ponte diz o rapaz para ela: “Vamos voar!” Ela largou-o mas colocou as mãos no tablier, ele acelerou o que pode,  de tal forma que fomos mesmo pelo ar e aterrámos do outro lado quase à saída da ponte. Eu encolhido no banco de trás, só pensei na sorte que tivemos em não vir outro carro em sentido contrário.

publicado por Sir do Vasco às 23:52

31
Jul 22

O Sacristão é o homem (sagrado cristão) que normalmente ajuda o Padre à missa, alem de outras tarefas dentro duma igreja, como tocar o sino. Actualmente sobretudo nas zonas urbanas quase não se nota a presença do sacristão, há os acólitos, os diáconos, os subdiáconos, etc. Tarefa antigamente, reservada aos homens pode hoje ser feita por mulher que nesse caso será sacristã.

Hoje ao entrar na igreja de Nossa Sra. De Fátima no Entroncamento, reparei nas escadas cheias, mal varridas, de arroz colorido (aparentemente). Ontem deve ter havido casamento.

Sendo “o casamento” tal como “o batizado” motivo de alegria para quem os celebra e para a Igreja, usou-se demonstra isso de vários modos. Sendo um desses hábitos, nos casamento, através do lançamento de pétalas de flores coloridas sobre os noivos. Há alguns anos para  cá tornou também habitual atirar arroz. Nunca gostei muito de ver tal ato porque sentindo-me na posição dos noivos acho que deve ser absolutamente incómodo. Quando casei, felizmente não me fizeram essa maldade. O arroz como símbolo de fertilidade parece ter sido importado da China. Ao contrário, umas boas mãos cheias de pétalas coloridas espalhadas no ar dão muita vida e transmitem alegria. Opiniões!

Como ando desfasado no tempo em muitas coisas, também  nesta do arroz colorido para casamentos, estava de fora. Não imaginava que se vendia este produto.

Antigamente havia arroz, havia batatas… depois passou a haver arroz carolino e arroz agulha. Agora como qualquer alimento poder ser transformado geneticamente, ou posteriormente em fábrica, temos arroz:

Arroz arbóreo.

Arroz basmati.

Arroz selvagem.

Arroz de sushi.

Arroz carolino.

Arroz preto.

Arroz agulha.

Arroz integral.

E se calhar há mais… Cada um come do que gosta!

Mas voltando às formas de expressar alegria por um casamento, uma delas era o toque do sino feito pelo sacristão.

Para quem não sabe, existiam formas diferentes de tocar o sino. Ao contrário das igrejas urbanas, nas zonas rurais ainda se houve tocar o sino a chamar o povo. Aquele toque mais comum é para a missa, um toque normal, sério, nem triste nem alegre, com regras e tempo definidos.

Se o sino toca lento “molengão” intercalando o som do sino de timbre fino com um de timbre forte, isso chamam-se “sinais” significa que alguém morreu. Toca-se com vezes e tempos definidos, sendo três vezes para homem e duas para mulher. Também se tocava quando o  funeral saía da igreja.

Se o sino toca a repique de modo rápido e desordenado, tipo o que importa é tocar alto e muito, é sinal de ”venham todos” ou há fogo ou qualquer outro acontecimento que requer o ajuntamento da população.

Se os sinos repicam de modo ordenado mas rápido, intercalando o timbre fino com timbre forte é sinal de festa. Quando a procissão está a sair ou a chegar á igreja ou depois de casamento ou baptizado. Sem tempo nem  vezes definidas.

Quando o toque se devia a casamento ou baptizado o  sacristão decidia  o tempo que tocava o sino, podendo ser de dois ou três minutos até dez ou quinze, diziam que conforme a gorjeta que lhe davam era pequena ou grande

publicado por Sir do Vasco às 12:18

11
Jul 21

Recebe com a direita, passa para a esquerda, bate continência com a direita e pede licença para se retirar. Só entende do que estou a falar quem foi militar há muitos anos, no tempo em que era obrigatório.

O Padre Ricardo Conceição é pároco na paroquia de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, no Entroncamento, há cerca de um ano. Não sendo pároco da Meia Via vai lá celebrar muitas vezes. Não é igual ao Padre Borga que dizia “trinta” larachas durante a missa, algumas boas e construtivas outras nem tanto, mas não se coíbe de criticar, sugerir e repetir determinados avisos mesmo durante a missa ser for preciso. Como por exemplo: “Não peguem na mascara...peguem só nos elásticos” “...estendam as mãos com dignidade para receberem a comunhão”.

Hoje no final da missa sugeriu atividades para jovens. Tendo começado por perguntar se alguma vez houve um grande incendido na zona, sugeriu a possibilidade de:

__ eles se juntarem para limparem os caminhos campestres da área, cheios de lixos inflamáveis e muitos vidros.

__ e de se reunirem com os idosos, familiares ou não, e aprenderem com eles.

Nos tempos de pandemia receber a comunhão com dignidade… para uns pode ser digno ter a mão direita por cima da esquerda, para outros a esquerda por cima da direita, outros colocarem as mãos em paralelo e até quem tente receber a hóstia com dois dedos como uma pinça…

Na Sarzedas do Vasco ensinavam-se as crianças a receber com a mão direita e dizer “obrigado”. E quando se dava algo a outra pessoa “...dá-se sempre com a mão direita”.

 

publicado por Sir do Vasco às 15:49

25
Dez 20

Hoje é dia de Natal.

Fomos à missa à Sarzedas de S. Pedro e a capela estava cheia, tinha muito mais pessoas que normalmente. Toda gente vestiu o fato novo para vir à missa, o fato ainda mais novo que o fato novo que vestem ao domingo. Alguns trazem casaco ou sobretudo a estrear, ou sapatos novos. Afinal o Menino Jesus não se esqueceu deles.

Quando terminou a missa, cá fora, estão algumas pessoas que foram apenas à saída.

Apesar de já passar das onze horas o adro da capela continua branco de geada, a noite foi muito fria e a erva existente debaixo das oliveiras nem se notava que era verde.

Do lado da porta do Sol da capela, espalhadas pelo adro e debaixo das oliveira cuja azeitona já foi apanhada (deve ter sido o Ti Formiga que a comprou), as pessoas esperavam que o sacristão começasse o leilão. Hoje iria render muito aos mordomos da festa. A escada que se inicia junto à saída da dita porta e sobe para o coro da capela estava cheia de oferendas ao S. Pedro. Eram: papadas, orelheiras, chouriças, garrafas de vinho, de água pé, de abafado, um vinho do porto, uma baraça de cebolas, um prato de filhós e até um franganito vivo com poucas penas, que quem o comprou terá de acabar de criar e talvez o possa comer pela Páscoa.

Finalmente o Ti João Carvalho chegou. É que o sacristão tem de ajudar o padre a vestir-se e a despir-se."  Vamos começar aqui pela papada… "Quanto vale a papada?” “Vinte cinco tostões”, lançou alguém do lado dos homens. “Está em vinte cinco tostões, quem dá mais?”. E assim por diante foi apregoando. Até que alguém pediu para leiloar o abafado e as filhós pois estava a tornar-se tarde... era preciso beber qualquer coisa. Pouco depois de rematada com o rum catrapum e pum final, já circulava entre os homens para molharem a goela. Outro grupo comprou de seguida a água pé e as filhós e começaram a aconchegar o estomago. As pessoas iam conversando e convivendo umas com as outras e trocando apertos de mão e beijos sobretudo com quem veio de Lisboa passar o Natal à terra com os familiares e agora encontrou também os amigos, os vizinhos, os antigos colegas da escola…É dia de festa!! É dia para vestir o fato novo, comer, beber e passear. É dia de Natal!

 

 

Natal 2020.

Passámos o Natal sozinhos eu e minha esposa por razões conhecidas.

Hoje fui à missa à Meia Via, ali mesmo a seguir ao E Leclerc mas já concelho de Torres Novas.  Fui sozinho e não fora o presépio em frente ao altar, nada “cheirou” a Natal. Pouca gente na igreja, a missa foi igual a todas não se cantou Natal, cânticos de Natal, cânticos ao Menino Jesus.

Alegrem-se os Céus e a Terra

Cantemos com alegria,

Já nasceu o Deus Menino,

Filho da Virgem Maria.

(29) 1ª - Alegrem-se os céus e a terra - YouTube

Tenho saudades.

Só pode entender na estória escrevi acima, quem conseguir imaginar-se no ano de 1960 ou 61, mais ano menos ano… e quem ia à missa no dia de Natal à capela do S. Pedro. Boas Festas para todos!

publicado por Sir do Vasco às 16:02

19
Set 20

 

SARDINHAS OU FRANGO?

Hoje almocei sardinhas assadas.

Ao almoço minha esposa perguntou: A como foram as sardinhas?

A 5 € (4,99) disse eu. Mais um euro do que a semana passada.

Estão baratas... Nós achamos que estão baratas. De facto o ano passado andaram sempre por 7 ou 8 € o quilo.

Com esta conversa a cabeça de repente dá voltas e pensámos: Muito mais barato está o frango! O “E. Leclerc” costuma ter frango a 1,49 o quilo.

Como tudo muda!

Bom, isto fez-me lembrar uma passagem real, que ouvi contar, há vários anos atrás.

O Zé da Alagoa, José Pereira Henriques, havia outro Zé da Alagoa, de geração anterior à minha (José Simões). Este Zé da Alagoa andou comigo e com outros de idades próximas na Escola Primária de Sarzedas de S. Pedro.

Antigamente algumas crianças da Alagoa vinham para a Escola de Sarzedas por ser mais perto do que Vila Facaia e por relações familiares.

A Alagoa fazia parte da freguesia de Castanheira de Pera, sendo assim integrada no concelho, quando este foi criado em 1914. Alguns anos depois, a pedido dos seus habitantes foi desanexada de Castanheira e passou para Freguesia de Vila Facaia e concelho de Pedrógão Grande. A importâncias das freguesias era grande à época, e era mais fácil e mais perto ir a Vila Facaia do que à Castanheira. Anos mais tarde com o desenvolvimento de Castanheira durante o Séc XX, com a construção de estradas novas e a existencia de transportes públicos a várias horas  concluíram que foi um erro… mas assim permaneceram até aos dias de hoje.

Dizia eu, que o Zé da Alagoa, restaurou ou fez de novo umas alminhas ao fundo do lugar da Alagoa. Julgo que por um voto que fez, por ter ido à guerra do ultramar e ter regressado são e salvo.

A seguir deixo duas imagens desse nicho/alminhas.

alminhas (1).jpg

alminhas (2).jpg

 

As "alminhas" ou "almas" eram e são, onde ainda existem, uns pequenos nichos construidos à beira dos caminhos, normalmente em cruzamentos, que antigamente eram pedonais e para carros de bois ou de outros animais de tração e onde passavam também todas as pessoas a pé. Nesses nichos era normalmente colocada uma imagem do Purgatório em chamas onde se viam também as almas a expiarem os seus pecados. Assim aos transeuntes era "pedido" uma oração por essas almas. Não fará sentido construir umas alminhas junto dum auto estrada, mas atualmente vêm-se muitos destes nichos novos à beira das estrada, não com as tais imagens das alminhas mas com santinhos conhecidos, muito especial com Nossa Senhora Fátima e os tres pastorinhos.

A sul da aldeia da Sarzedas do Vasco existe um local denominado “As Almas”.

Situa-se no cruzamento da estrada que vem da Salaborda e segue para Sarzedas de S. Pedro e a estrada que vai do lugar para o Vale das Mós.

Não sendo da minha lembrança mas ouvi contar aos antigos, que houve ali um nicho com umas alminhas, que acabou por se arruinar e nunca mais foi recuperado. Fincando contudo o nome no local.

Este local foi o cruzamento de estradas mais importante a sul da aldeia, dado que se entrava nesta pela estrada que sobe pelo Ramalhão até às Sobreiras. A estrada que seguia para Sarzedas de S. Pedro passava a sul da casa do falecido Manuel Rodrigues, conhecido por Manuel das Chitas. A estrada que atualmente segue das Sobreiras e passa a norte da casa deste senhor foi feita nos anos 50 talvez 1957 ou 1958 não tenho a localização exata no tempo mas lembro-me de andar lá o cilindro a compactar a brita.

A nascente  da aldeia de Campelos, Vila Facaia, quem for pela estrada que segue na direção da aldeia do Cume  encontra ali perto um nicho de alminhas talvez o mais antigo e mais paradigmático das redondezas.  ali era um cruzamento importante, entre a antiga estrada que seguia de Vila Facaia para Rabigordo, Mosteiro e  a que ia de Campelos para Cume, Ramalho, etc. Deixo umas imagens deste nicho recuperado em 2002.

Existe também junto à estrada que segue do alto da Senhora do Pranto até ao Trevim, pelo alto das montanhas um local denominado Almas do Coito. Ai também um cruzamente entre a referida estrada, que era única entre Figueiró e Castanheira até ao principio do Séc XX,  e a estrada que ligava as aldeias de Sarzedas, Moita , Carregal com Vilas de Pedro. Aí terão existido também umas "almas" antigas. Atualmente existe um nicho bastante grande, contemporaneo, algo bonito, mas que nada tem a ver com a antiga construção.

Em 1964 a quando das comemorações do cinquentenário do concelho de Castanheira de Pera foram construidos três nichos dedicados à Nossa Senhora dos Bons Caminhos. Um no Souto Fundeiro à entrada do Concelho, outro no Troviscal e outro junto ao ramal do Coentral, na estrada que segue para Lousã. Inaugurados pelo Bispo Ernesto Sena de Oliveira. Todos foram destruidos não sei exatamente porquê!

Ouvi então contar, porque de facto não estive presente, que no dia da inauguração, esteve presente o então Padre Carlos, de Pedrógão, que presidiu ao Te Deum. Estiveram bastantes pessoas, sendo algumas da Sarzedas do Vasco. Depois da cerimónia houve um lanche que entre outros aperitivos teve sardinhas assadas, febras e frango. Com a mesa posta e a comida à vista, uma senhora terá prevenido a outra:

Ó Fulana, (?) olha que tu, não comas sardinhas!

Independentemente do preço das sardinha e do frango à época, deixo ao critério do leitor, as conclusões.

publicado por Sir do Vasco às 15:36

04
Jul 20

 

Hoje no programa ALTA DEFINIÇÃO foi entrevistado NEL MONTEIRO

Sem esconder o seu passado, falou de si e como outros, demonstrou que só com trabalho se atinge o sucesso. Comeu o pão que o diabo amassou. A mãe estava internada e o pai ia trabalhar a semana inteira.  Ele ficava sozinho em casa e na rua e nos vizinhos, comia o que pedia e o que lhe davam.

As gerações dos vinte, trinta e mesmo quarenta anos, que só aprenderam a pedir à família e ao Governo, deviam ver isto e refletirem sobre tudo o que lhes foi dado e a que eles não dão valor.

Muitos defensores do 25 de Abril só sabem falar da liberdade que tivemos a partir desse dia. Afinal tivemos liberdade politica. Mas será que essa liberdade compensa tudo o resto? Será que somos absolutamente livres hoje em dia ou temos outros tipos de subjugação ao poder ou aos poderes instalados? Bom, seja como seja o pós 25 de Abril veio trazer ás pessoas muitas coisas boas. Pouco a pouco as condições de vida alteraram-se para melhor. É melhor viver hoje do que em 1974 ou antes. Mas muitos dos “Blá Blá Blá, 25 de Abril, liberdade, direitos, etc. etc.” não sabem nem imaginam como era viver, nessa época ou antes, sobretudo no país real onde era preciso trabalhar para produzir o que se viria a comer. E quem não trabalhava ou não tinha terras onde pudesse produzir, não teria que comer. A riqueza das pessoas media-se pelos alqueires de milho que produziam. ( No Alentejo mede-se, ainda hoje, pelas arrobas de cortiça que produz) Ainda assim alguém com trinta anos de idade actualmente poderá imaginar com seria a sua vida se tivesse que comer couves galegas cortadas como se fossem para as galinhas, cozidas e com um fio de azeite e eventualmente meia dúzia de feijões secos misturados? E se tivessem feijões ou batatas cortadas miudinhas já era manjar dos deuses. Não. Não sabem e nem querem saber. Mas era assim. As pessoas eram vegetarianas à força. Por isso valiam-se do que tinham à mão e não era crime caçar passarinhos, coelhos, ouriços cacheiros, texugos e tudo o que pudesse ser comestível. Mas também porque coloco eu esta questão? Afinal aparece alguém que me pergunta: E é mau como vivemos hoje? E eu tenho que responder. Não, não é mau. Mas na verdade custa ver pessoas que não sabem que as galinhas podem por ovos mesmo sem terem galo, mas sabem e acham natural estragar, esbanjar, seja comida seja vestuário, seja utensílios de vária ordem. Também não sabem o que são couves galegas nem como se cortam couves para as galinhas, nem  quantos quilos são uma arroba.

As galinhas são criadas em aviário e comem ração. E todo e qualquer cidadão que queira criar galinhas ou outros animais para a alimentação em sua casa, é reprimido e contrariado por várias condicionantes governamentais.

 

Mesmo nas cidades ou na vilas onde a mentalidade aldeã desaparecia e as pessoas viviam aparentemente melhor, embora algumas tivessem mais dificuldades do que alguns aldeãos. Alguém de nova geração pode imaginar um empregado de escritório que usava o mesmo casaco durante 365 dias? Eventualmente duas gravatas e duas camisas, alternadas semana sim semana não. Pois! Era assim. Um casaco de homem não se lavava. Nunca ouviram falar de cera na gola do casaco? Às vezes até brilhava.

Depois de saborear uma boa e apetitosa refeição, quem limpa o fundo do prato com pão e o come? Antigamente ninguém deixava restos de comida no prato. Actualmente deixa-se comida no prato porque é bonito, porque há fartura ou por qual razão? Afinal ainda há gente no mundo que não tem o essencial. Porque não se ensinam as crianças a serem poupadas, digo no sentido racional, o que está no prato é para comer. Se não quero muito, não encho muito o prato, tiro menos e se quiser mais, repito. Mas não fica resto no prato.

Quem costuma frequentar os novos restaurantes buffet livre, pode assistir à goludisse ou ganancia de algumas pessoas a encher o prato e deixar ficar restos de comida no fim. Mas porquê? Num sitio onde existe liberdade de serviço? Alguns restaurantes julgaram por bem cobrar os restos a quem não os comer. Acho muito bem.

Não escrevo com saudosismo, até porque nunca passei fome e nunca andei descalço. Mas lembro-me que na escola primária a professora não queria meninos descalços. E lembro-me que um certo colega levava as botas quase só com o cano no tornozelo. A sola da bota desaparecera e grande parte da planta do pé assentava no chão. Assim tinha botas e não ia descalço. As botas é que não tinham sola.

Acreditem se quiserem, mas não têm o direito de me desmentir.

Como diria Raul Solnado “façam favor de ser felizes”.

publicado por Sir do Vasco às 23:20

22
Abr 20

 

Muitos emigrantes e poucos imigrantes

Sarzedas do Vasco, cada vez mais deserta como outras aldeias do pais real.

Sarzedenses segundo o principio jus soli, com residencia permanente na aldeia, são apenas três: Aurora Tomás, Rosa Parada e António Barata. A última pessoa nascida na aldeia e ainda por cá, fui eu em 1953. Houve mais tres ou quatro nascimentos posteriores que infelizmente já partiram.

Os antigos muitos terrenos surribaram, vários açudes ergueram para segurar as terras e poderem cultiva-las, construíram tuneis para as águas passarem, e por cima fizeram os nateiros,  desviaram outras através de regateiras artificiais, fizeram regos para irrigação das hortas, organizaram a distribuição das águas por todos, eram as águas contadas, cada pessoa tinha direito a certo tempo de água o suficiente para regar a sua parcela, desbravaram, plantaram oliveiras e outras árvores de fruto, espécies e qualidades agora desaparecidas. Os muitos castanheiros existentes, foram base de sustento durante muitos anos, mas a molestia Da tinta começava a atacá-los. Quando uma pessoa mais idosa se aparentava saudável, dizia-se que "comeu muita castanha". Eram precisos mais terrenos de cultivo. As pessoas eram muitas e precisavam de cultivar para comer… actualmente muitos destes terrenos estão irreconhecíveis em comparação como quando os conhecemos há umas dezenas de anos atrás. Locais onde a presença humana se nota apenas pelas velhas paredes, que formam socalcos, cobertos de vegetação espontânea, quase um retorno ao estado selvagem original.

Os seus filhos cedo iniciaram a sua diáspora.

Migrações:

Saídas temporárias em busca de “ganha pão” em outras paragens.

Os homens iam à ceifa para o Alentejo, desde cedo ouvimos falar das idas a Campo Maior. Como todos os beirões que se deslocavam para o Sul eram chamados de Ratinhos. Eventualmente eram Gaibéus na Borda d’água.

consulta curiosa em:

http://www.prof2000.pt/users/avcultur/LuisJordao/Almanaque/Numero09/Page30.htm

e em:

http://www.folclore-online.com/textos/lino_mendes/tradicao-em-debate.html#.WHK-LmZvjIU

As raparigas iam para a monda do trigo, no Termo de Lisboa, Tercena, Barcarena, Carenque…

Ranchos com gente de várias idades faziam temporadas no Ribatejo. Faziam as vindimas, voltavam para a azeitona: Quinta da Cardiga, quinta de Alorna, quinta de Cima, etc. Os labradores ribatejanos tinham lá os contratantes a quem encomendavam a mão de obra: O Ti Ramiro da Salaborda, o Ti Isidro Abreu da Balsa, não sabemos se outros havia…

A Carda actividade temporária também fora da terra, ouvimos dizer que iam para o Bairro, não sabemos exactamente onde fica, mas parece ser na zona de Pombal, Abiul, uma região e não propriamente uma localidade. Parece ter sido um trabalho bem remunerado. Tanto que fez nascer um ditado popular. Quando era preciso fazer algo que custasse muito dinheiro costumava-se dizer: “Isso só quando o meu avô vier da Carda” o que significava que traria muito dinheiro. Conhecemos o homem que terá sido   o último cardador da aldeia, o ti Eduardo Silva conhecido pelo “Eduardo cardador”. Vivia na Carvalheira. A casa dele foi vendida a alguém de fora, que só vem à Sarzedas de férias ou fim de semana.

Outros se aventuraram naquilo que ouvíamos chamar de “negócio”. Iam para o negócio, andavam no negócio. Em “monografia o concelho de Castanheira de Pera”, de Kalidás Barreto, 2ª edição de 2001, página 388, refere a existência de 7 bufarinheiro em Sarzedas do Vasco.

Uma mula, carregada com umas peças de tecido, mantas ou xailes, barretes ou meias, das fábricas da Ribeira de Pera e lá partiam.

Para o Sul, para o Norte, para a Borda D’Água.

Ainda recordamos os últimos, sarzedenses, aqui residentes com a família, que faziam estas saídas, temporárias, de vendedores ambulantes: O primo Adelino Henriques, conhecido por Adelino Carão e Ti Abílio da Silva Nunes, conhecido por Abílio da Eira. O tio visavô Domingos Rosa Simões, que não conhecemos,  fez as suas vendas pelo sul do país.

Outros, solteiros, arranjaram por lá namoradas e ficaram.

O Tio visavô António da Silva Eiras, ficou pelo Casteleiro em 1856, Sabugal.

Alípio Simões ficou por Alferrarede, Abrantes.

Não sendo da Sarzedas mas descendente, o primo Domingos, (que não conheci) filho do tio avô, Manuel Eiras da Alagoa, casou em Vila Viçosa.

Também iam para o “arranque”, próximo de Badajoz, entre outros o avô Domingos Eiras,  a fim de arrancar raízes de sobreiros e outras árvores previamente cortadas com as quais era feito carvão, e preparavam o terreno para cultivo. E não os deixavam gastar lenha à vontade para confecinar as refeições. Os excrementos secos de animais serviam de acendalha. Alguns homens aproveitavam trabalhos ocasionais longe da terra como por exemlo a construção da barragem de Santa Lusia, Pampilhosa da Serra.

Emigrações:

Além das migrações internas sobretudo para Lisboa, houve quem se aventurou a ir para o Brasil. Os originais donos da casa, (dos quais não sabemos o nome) nas Sobreiras, que terão vendido ao tio visavô Domingos Rosa Simões e passou para sua filha, prima Dores e depois para sua neta Maria Aline, conhecida por Linita.

Já depois de abril de 1974, também descendente de sarzedense, o filho do Ti Jaime serralheiro, Vitor Manuel Henriques da Silva, para S. Paulo, onde tinha um tio irmão da mãe, descendente da Moita, Albino Henriques Lopes. (Informação dada pelo seu 2º sobrinho Vitor Gabriel, finalista de medicina e residente em S. Paulo)

O  Sr. Carlos Searas, falecido, com a colaboração do Sr Salvador da Silva Tomás, no seu blog   http://searascarlos.blogspot.com/2008/

refere:    MANUEL SIMÕES TOMÁS  Natural de Sarzedas do Vasco – Castanheira de Pera, emigrou cedo para S. Paulo – Brasil, onde trabalhou e viveu. Nunca voltou à sua terra natal.

Pessoa que não tivemos oportunidade de conhecer nem de ouvir falar. Seria o tal dono da casa das Sobreiras?

Manuel Simões Almeida e Salvador da Silva Tomás, também para o Brasil.

Quem foi para Lisboa definitivamente, João Vicente e família, que já não conhecemos. Foi dono da casa que vendeu a Domingos Simões (Barbeiro) e recentemente pertenceu aos primos Leonor e marido, falecidos no grande incêndio de 2017.

Para Alcanena, Francisco Fidalgo e família , viveu na casa que é da Maria Helena,   “Mariquitas”.

Mais recentemente para França, João Simões, casado com prima Rosinda. São ainda residentes na aldeia quando estão em Portugal.

Todos procuravam o sustento fora da terra.

Descendentes de Sarzedenses, partiram recentemente com “canudo” na mão. Os motivos são outros mas as necessidades são as mesmas. Os cartunista humorizaram os emigrantes portugueses antigos, portadores de garrafão na mão, agora no séc. XXI portadores de diploma na mão.

Ainda os que temporariamente estiveram emigrados: O bisavô Manuel da Silva Eiras em Angola, Manuel da Silva Tomás, no Brasil e o tio avô Manuel Eiras, sarzedense da nascença, que viveu em Alagoa, também em Angola, e talvez haja outros…

Não sendo da nossa lembrança, houve pequena industria ou fabriquetas de xailes e mantas por Abílio da Silva Nunes e João Vicente.   Com informação do nosso amigo Jorge Dinis, neto do Ti Abílio da Eira, que por sua vez a ouviu de sua mãe D. Etelvina. As lavagens da matéria prima, sobretudo lã e do produto acabado, eram feita no Poço Tinteiro que fica no Sargaçal (“Solgaçal” em linguagem popular), que se situa entre a Balsa e a Sarzedas do Vasco. Sendo assim todo o material era carregado manualmente para o local e transportado de novo para a aldeia.

Quase tudo o que aqui descrevemos é resultado do que se ouviu contar oralmente pelos mais antigos há vários anos atrás. Havendo contudo alguns casos que tivemos conhecimento pessoal. Pode haver incertezas ou enganos não propositados ou ainda outros relatos que possam aqui ser incluídos. Estamos recetivos a qualquer alteração tida como verdadeira ou assunto que não sendo do nosso conhecimento possamos acrescentar.

 

publicado por Sir do Vasco às 18:48

08
Jan 20

Mais uma vez o Manuel Vicente conta no seu livro a história dos fojos dos lobos nas aldeias da serra do Gerês. Um fojo é uma espécie de poço fundo, um fosso, para onde eram encaminhados os lobos à frente dos batedores por entre os matagais ou onde se deixavam uma cabra ou ovelha velha sem valor que de noite, com os seus balidos atrairia um ou dois lobos. Estes não resistiam em saltar lá para dentro, não imaginando que seria impossível voltar a saltar para fora e portanto só de lá sairiam mortos pendurados pelas patas numa vara. Eram então levados para o largo da igreja. “No percurso, pelos povoados por onde passavam, não faltaria quem lhes oferecessem o seu tributo, em queijos e enchidos ou algum vinho, pela tranquilidade emprestada com o abate dos lobos”.

Não é do meu tempo que houvessem lobos na  Sarzedas, embora muitas histórias se ouviam acerca deles e dos seus ataques aos rebanhos nos finais do seculo XIX e principios do seculo XX.

Talvez real:

Um lobo terá lavado uma vez uma ovelha chamada "pintadinha" que respondia ao chamar do seu dono: Este sem poder fazer algo para salva-la chamava: "Pintadinha!" e ela respondia "Mé´´eéé" e o dono impotente dizia: "Lá vai ela, lá vai ela, na boca daquele ladrão!"

 Ou mais imaginária

Um velha foi à aldeia vizinha visitar a filha, pelo caminho apareceu-lhe um lobo que queria come-la. "Ò Sr. Lobo, não me coma agora que estou muito magrinha. Eu vou a uma festa a casa da minha filha e amanhã passo por aqui na volta, vou comer muito porque vai haver uma festa, virei então mais gordinha e come-me então! " O lobo aceitou e ficou à espera até ao outro dia. A velha quando chegou a casa da filha comeu e bebeu e  quando estava par vir embora contou o sucedido à filha "Não sei como hei-de fazer, porque o lobo está lá à espera para me comer".

"Não tem problema minha mãe". Respondeu a filha.

"Tem aqui esta cabaça quando chegar perto do sitio onde está o lobo meta-se dentro dela e relobe até passar por ele". Assim foi. Quando o lobo viu uma cabaça a rebolar, perguntou: "Ó cabacinha não viste por ai uma velhinha? A velha dentro da cabaça respondeu: "Nem velhinha nem velhão rebola, rebola cabacinha, rebola rebola cabação!"  E assim escapou de ser papada pelo Sr. Lobo.

 

Na Sarzedas há sessenta anos atrás as raposas por vezes atacavam em grande as capoeiras da aldeia. Quem não tinha as galinhas fechadas de noite estava sujeito a grandes perdas. Lembro-me um ano que as galinhas da tia Conceição das Sobreiras e da prima Dores, que normalmente traziam as galinhas soltas e não as fechavam durante a noite,  foram atacadas por uma raposa que comeu e levou. As raposas comiam e matavam todas as outras e levavam-nas, enterravam-nas para comer depois. Muitas vezes perdiam-lhe o sito. Nessa noite ao ouvirem as restantes cacarejar em alvoroço ter-se-ão levantado e corrido com a raposa. No entanto esta levou ainda algumas que foi enterrar na “Cova da Baralha”, actualmente onde é o quintal da Natalinha. Em casa de meus pais por vezes saltavam os muros e rondavam as capoeiras, sabíamos isso porque as galinhas entravam em alvoroço, embora normalmente estivessem fechadas.

Quem caçava uma raposa também vinha exibi-la publicamente pelas aldeias. Lembro-me, mais do que uma vez, que alguns homens da Sarzedas de S. Pedro vieram pelas ruas da Sarzedas do Vasco com uma raposa e uma bandeja na mão a pedir para raposa, como quem pedia para a festa dum santo. Quem queria dava… mas se lhes dessem um copo de vinho eles já ficavam contentes.

publicado por Sir do Vasco às 20:55

05
Jan 20

O meu colega e amigo, Manuel Fernandes Vicente, no seu livro Vento das Sete Serras conta histórias, lendas, usos e costumes do nosso Portugal, onde inclui também Os Neveiros do Coentral, O Lainte e a fundação da industria de lanificios em Castanheira de Pera. Na página 218 conta uma aventura sua, com dois amigos aí há quarenta anos atrás, que eu vou resumir. Férias de Natal, mochilas às costas carregadas de conservas de atum e sardinha, estão por “trilhos indecifráveis” na serra do Gerês na véspera de Natal, tarde chuvosa em Montalegre. Acampam na margem do rio Homem onde tomaram banho no cachão nessa tarde de vésperas natalícias. “Éramos loucos, mas higiénicos…” Diz ele agora. Encontram-se com um eremita “que depois de muito insistirmos lá aceitou fazer a consoada connosco, com atum, batatas cozidas e pimentos assados.” Depois da ceia “...de imediato o enigmático barbudo se envolveu na capa e se pôs a caminho…” À noite ouviram o que supuseram ser lobos, pelo sim pelo não, a fogueira ficou bem acesa e fizeram sentinela à vez à porta da tenda “…não fosse o lobo também querer celebrar a quadra e cear-nos”. No dia seguinte, sem prendas no sapatinho, tomaram de novo o caminho mais ou menos aleatório. Com a noite a cair “…e sem poiso previsto para pernoitar, demos com um casal de sexagenários…   …e ofereceram-nos o que tinham”. A sopa da panela de ferro “soube-nos como manjar de príncipes…  ...e um palheiro com manjedoura, aquecido com duas vacas e alguns ovinos teria mais conforto que a apertada canadiana. Era o dia de Natal”.

A celebração dos solstícios é conhecida desde a antiguidade. Quase todos os povos os festejavam e muitos adoravam o Sol como um deus. Festas pagãs que anunciavam a chegada ou o renascer da Luz. Mantêm-se ainda em alguns países ou renasce em outros, este paganismo ou neopaganismo. Na Suécia celebra-se a chegada do Verão entre 20 e 25 de Junho, no sábado mais próximo. O midsummer com direito a dança, muita dança e canções à volta do mastro característico, enfeitado com flores naturais, coroas das mesmas flores  na cabeça e até competições desportivas. E depois, em família comilança, bebedeira, mais comilança, mais bebedeira, mais cantiga até adormecerem. É mais importante que o Natal.

As pessoas festejavam a fertilidade, associada à alegria das colheitas e da abundância. Faziam-se fogueiras com o objetivo de promover a sorte, saúde, expulsar doenças, e no caso de mulheres, ter um casamento e para abençoar as plantações e garantir boas colheitas. Mais tarde, à semelhança do que sucedeu com o Entrudo, a Igreja cristianizou essas festas pagãs e assim surgem as fogueiras de S. João e as fogueiras e madeiro de Natal. Dizia o meu avô Domingos, que na Sarzedas do Vasco antigamente era uso fazer baile e fazer fogueiras e também fachas e tochas que os rapazes passavam a correr também pelos campos (e não faziam incêndios).

Já não é do meu tempo haver fogueiras de S. João. E bailes só nas aldeias próximas.

Ao anoitecer do dia 24 de Junho, eu e os dois parentes da Balsa partimos em direção à Salaborda, é noite de S. João, pode ser que se lembrem de fazer um bailarico. Ao chegar à Salaborda Nova, não vislumbra qualquer comemoração nem do solstício nem do S. João. Rumámos à Salaborda Velha... a mesma coisa, não há jeito de nada. Vamos é ao Mosteiro, já que estamos aqui. No Mosteiro “nem chus, nem bus”. Resignados resolvemos voltar para casa. Entretanto surge a hipótese: “já que temos de subir, vamos por este lado e passamos pelo Coelhal”. Um diz mata ou outro diz esfola, toca a andar. Aí vêm eles pela margem esquerda da ribeira de Pera, serra acima. Caminho pedonal por meio do pinhal, mal defino, sabendo nós que podíamos embrenharmo-nos nos matagais da margem da ribeira…”em qualquer bifurcação temos que virar pela direita…” dizíamos nós.

Depois de boa caminhada, eram quase onze horas da noite, avistamos uma casa com pátio murado e uma luz de candeeiro a petróleo na mão de alguém que pouco depois, mais próximos, concluímos ser um homem.

“Boa noite!” dissemos nós.

“Quem é que lá está?” ouviu-se dentro do pátio. “Gente de paz” respondemos.” O senhor pode dizer-nos, onde estamos, que terra é esta? Entretanto o homem abre o portão do pátio. “Então estão perdidos? Hoje é noite de S. João, são rapazes à procura de baile!”, acrescentou. “É verdade! “ respondemos. “Vocês estão na Ameixoeira!” disse o Sr João. “E estamos longe do Coelhal?”

“Não, ao cimo desta estrada, viram à esquerda e o Coelhal é logo adiante”.

“Então obrigado!” Agradecemos nós. E preparávamo-nos para continuar a viagem. Mas o homem continuou: “Então, não querem um copo?” Houve uns segundos de pausa e hesitação. Entretanto já a esposa do senhor João estava no cimo da varanda com outra candeia na mão a inteirar-se do que se passava.

O Rogério responde: “Se o senhor o dá...” De imediato o homem virou-se para trás e disse: "Ó Celeste trás lá uns copos e a picheira”. Bebemos dois copos cada um e depois de alguns minutos de conversa, concluímos que eles conheciam os nossos familiares. Que Deus console suas almas, tal como aquele vinho nos consolou.

Agradecemos e continuámos.

Chegámos ao Coelhal, onde todos dormiam e nem sonhavam que três aventureiros queriam comemorar a noite de S. João.

"Bom...vamos passar pelo Vermelho e se não houver nada, descemos direito ao “munho” do Zé Bernardo". E assim foi, no Vermelho fechámos o circuito, sem dança nem contradança.

Era meia noite, de Verão, amena e com cheiro de hortas regadas, cheirava a milho regado. Atravessámos por um carreirito que saia do meio da aldeia, junto a um rego da água, que nos levaria ao caminho que descia para a Sarzedas...mas, junto do tal rego de água, já fora da aldeia estava uma cerejeira com cerejas maduras, miúdas mas maduras e doces e aí vão três “artistas” para cima da cerejeira e toca a comer cerejas e a reconfortar o estômago... e depois seguimos viagem...

 



publicado por Sir do Vasco às 21:16

23
Ago 19

 

Ontem tive uma conversa agradável com o amigo e parente Mário Nascimento. A meu pedido  fui esclarecido sobre algumas situações relacionadas com parentescos antigos. Sendo a minha trisavó Maria Rosa Helena Lopes, irmã de Maria do Carmo (Helena Lopes???) visavó do Mário. Eram seis irmãos, mais cinco meios irmãos. Nasceram na Balsa, tendo a Maria do Carmo vivido lá, na casa pertencente ao Dr. Rosendo. Nessa casa nasceu  o Padre Nascimento e provavelmente os seus irmãos, Manuel, Piedade e mais uma menina que terá falecido cedo. Depois vieram as curiosidades engraçadas. O único que ficou com o apelido Nascimento foi o José (Henriques do Nascimento) por ter nascido próximo do Natal. O seu irmão  Manuel Henriques dos Santos, avô do Mário, mais tarde teve problemas, devido ao nome igual ao de um individuo da Moita. Assim resolveu adotar o mesmo apelido do irmão para evitar confusões, passando a assinar Manuel Henriques do Nascimento.

O padre José Henriques do Nascimento foi reitor da paróquia de Castanheira de Pera mais de cinquenta anos, tendo celebrado a sua missa nova na capela da Sarzedas de S. Pedro em 1901 e celebrado as Bodas de Ouro sacerdotáis em 1951 como consta de uma lápide existente na capela.

Eu lembro-me do Padre Nascimento e lembro-me dos neus avós o cumprimentarem e tratarem-se por primos. Embora à época já fosse coadjuvado pelo padre  Arménio Marques.

A antiga capela foi destruida em 1973, com exceção do altar mor e da torre, embora  esta tenha sido alteada. O altar porque foi oferecido pelo Sr. Cipriano Lopes de Almeida e a torre pelo seu irmão Manuel Lopes de Almeida. Outras ofertas embora movéis, os antigos  bancos da capela mor, oferecidos pelo Sr. Manuel  de Oliveira  (Ti Oliveira) da Sarzedas do Vasco, foram retirados e não voltaram. No mesmo local e com a integração dos elementos que ficaram foi construida a atual capela, bastante maior.  Esta foi oferta do Sr. Albano Antunes Morgado. Se olharmos o altar de mármore, podemos concluir a altura e largura da capela mor antiga. O crucifixo que está por cima do altar mor, pendurado na parede, foi oferecido pelo Sr. Sá Simões de Almeida.

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publicado por Sir do Vasco às 14:39

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